quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Simplesmente a vida é simples

A noite já havia caído naquelas horas depois de um dia de muita chuva agora apenas uma garoa caia de lado ficando visível somente sob a luz dos postes que iluminam a avenida. O silencio só era quebrado quando um carro passava e o atrito do pneu com asfalto molhado fazia um barulho que soa como musica nos meus ouvidos. Ah como eu gosto de dirigir em dias de chuva. Pego meu carro ligo o som ta rolando Rolling Stones, deixo num volume no qual consigo ouvir o barulho dos pneus nas poças de água, ah esse barulho, se um dia eu gravar um cd de musicas para relaxar com certeza uma das faixas será barulho de carro passando em poças de água. Acendo um cigarro pra viagem ficar completa. A fumaça saindo pela fresta do vidro aberta a iluminação das ruas o barulho nas poças da água e o som que rolava, me fez pensar sobre as inúmeras coisas da vida.

Eu tinha uma reflexão pra fazer aqui sobre a vida, mas enquanto escrevia esse texto tive que sair novamente pra dirigir na chuva, ouvindo o barulho nas poças de água fumar um cigarro e ouvir um rock, quando finalmente retornei já não lembrava vai mais o que iria escrever. E nem precisava mais, pois a vida é simples é só viver sem teorizar, sem se preocupar, sem argumentar a vida simplesmente, foi feita pra viver.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

De Rádio Relíquia

Estava imóvel em frente ao quadro
, havia movimento, mas não se mexia. Voava, traduzia aquilo que via através do pensamento. Sempre fora assim, na escola não tinha concentração, na verdade sempre teve demais, mas a sua maneira, ninguém conseguia compreender que seu modo de concentrar-se era voando. Cores, uma psicodelia de cores que fez lembrar "Lucy in the sky with diamonds", ou então, "yellow submarine". Naquele dia estava mais para "hey Jude". Aquela pintura era intrigante, de perto um amontoado de tintas, a média distância as cores tomavam forma, via juntas algumas pessoas, e imaginou-se no meio delas. O que estariam fazendo? Era uma cidade colorida, o chão era de ladrilhos antigos, as paredes, algumas pintadas, outras com lindos desenhos feitos pela junção dos azulejos. no fundo o mar, um barco, um cachorro. As pessoas conversavam, mas não entendia o que, nem quem eram, nem o que faziam. Esperavam. Aguardavam. Mas não eram as pessoas do quadro que aguardavam, tinha esse dom, ou defeito, sei lá. Conseguia ver em coisas, situações e imagens o que estava sentindo realmente. Passava a sua frente como um filme. Aguardava ansiosamente, quase desesperadamente. Desesperadamente aguardava.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

De Rádio Relíquia

Nem sempre as coisas são como queremos, coisas boas, ruins, ótimas, péssimas, a vida anda cada dia mais e mais rápida, perde-se muito tempo sem fazer nada. Dentro das expectativas as coisas sempre ficam no aceitável, mas não quero mais aceitá-las. É para o mundo que vivemos, e é com ele que nos vamos. Muito daquilo que queremos não nos é dado, muito do que não queremos é empurrado goela a baixo. Falta sentimento ao mundo, estamos cada vez mais automatizados, sempre pensando pelo lado racional das coisas, o sentimental vai ficando esquecido. A poesia faz falta ao mundo, foi Ferreira Gullar quem disse que “A arte existe porque a vida não basta”, e só com o sentimento que podemos ter uma vida mais plena. Em ano de eleição as coisas sempre pendem para o ridículo. Ridículo mesmo, porque existem pessoas defendendo posições insustentáveis, porém segue o circo, que palhaços existem aos montes, mais de 180 milhões.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

De Rádio Relíquia


Sentou-se a mesa, arrastou a cadeira pra perto, arrumou a postura. Ligou o computador. Respirou fundo. Era onze horas da noite, uma terça-feira escura. Na sala só via a luz da tela do computador, pensou mais uma vez em comprar um notebook para poder escrever na cama, afastou a ideia, tinha pouco dinheiro desde que perdera o emprego. A vida nem sempre lhe fora favorável, problemas, problemas e mais problemas. Não tem importância agora, pensou. Entrando pela janela pouquíssima luz. A noite estava nublada, porem um fino raio de luz da lua passando pela janela. O barulho das teclas só era interrompido pelos latidos dos cães na vizinhança, gatos, é insuportável os miados das fêmeas no cio. Sempre acorda durante a noite, pensou em colocar veneno, atirar nos gatos, mas tem o coração mole, não mata uma lagartixa. Mas naquele dia nada importava, a não ser terminar o maldito trabalho. Free Lancer agora era a sua profissão, trabalhava até altas horas da madrugada, muito café, tanto que até sentia o estômago doer, deveria ser úlcera, mas do café não deixava, como poderia? Sem café não terminaria nenhum trabalho, ou pelo menos assim pensava. Na noite em questão, terminava umas imagens, arrumava uns retoques de algumas madames, algumas rugas, lutava contra o tempo, era uma batalha interminável, noite após noite lutava contra o tempo, contra as marcas dos anos. Seu pai não ficaria nada feliz, trabalhava em um museu e ensinara a seus filhos desde pequeno que o tempo é a única coisa que realmente temos, mas que nos deixa suas marcas, sempre, não importa o quanto lutamos contra ele.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

De Rádio Relíquia

A chuva não parava, dava para ouvir os pingos no gramado amarelado pelos recentes dias de sol. Depois de tanto calor um pouco de chuva não faria mal a ninguém. Era noite, com o guarda-chuva se protegia dos respingos, o barulho do salto na calçada, por um momento, só, na rua olha para os lados e se detêm na luz do poste, a luz refletida nas gotas, de um amarelo brilhante, encantador, inebriante. Visto que amarelo era a sua cor preferida. Por mais um momento continua olhando, prossegue. Caminha mais algumas quadras e nota a noite, que vai se tornando estrelada novamente. Solta um grande e sonoro palavrão. – Merda!. Não queria que parasse a chuva. Gosta de ouvir o som ao dormir. Gosta de ver refletida a luz nos pingos. Gosta de ouvir o som da terra sendo molhada, do silêncio que traz a chuva. O sol é áspero, queima, maltrata. A chuva é bela, refresca. Nessa hora realiza-se por não viver nos lugares mais frios, onde a chuva deve ser terrível. Chama o taxi, embarca, diz algo ao motorista, não é possível ouvir, ao mesmo tempo em que fala fecha a porta. O taxi arranca e não vemos mais nada além da esquina.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Com essa Cor - Monique Kessous



Monique Kessous é uma cantora e compositora carioca, tem dois cd`s gravados, o primeiro intitulado "Liverpool Bossa" (2007) no qual canta músicas dos Beatles em versão bossa nova! Muito interessante, porém não foi totalmente do meu agrado. Mas o seu segundo cd "Com essa cor" lançado em 2008 pela Som Livre, mostra uma face muito mais brasileira e muito melhor da cantora carioca. A cantora teve músicas em novelas da Rede Globo, e em vários cd`s de coletâneas como "Mulheres 2010" (aonde a descobri, ontem por acaso), "Chico Buarque por elas", entre outras. Quem quiser conferir um pouco mais é so entrar no myspace ou no canal do You Tube. Uma palhinha aqui no Blog da música título do cd, "Com essa Cor".

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Sem título



Noctívago andante, pelas ruas segue com receio, olha para os lados como se fosse perseguido.

Cruza uma esquina sem olhar para os carros, perturbado com o que acabara de acontecer. Com as mãos ensangüentadas, segura ainda a faca, com a qual acabará com a sua vida, e a de outra pessoa. Passional cometeu o maior ato que uma pessoa poderia cometer, matou. Sendo o maior também é o pior.

Mas ele se lembra do dia mais feliz que teve, não foi a muito tempo, há recente uma semana ele atravessava essa mesma avenida que o vê correr com sangue nas mãos, e esbarra com ela. Parecia até cena de cinema, as coisas que ela carregava caíram ao chão, e como em cidade grande não há vida que imite arte, o sinal abria e os carros avançavam a buzinadas na direção dos dois. Todo o material que ela carregava, material que trazia de sua aula de artes, a qual também era sua profissão, foi atropelado, restaram papéis amassados com marcas de pneu, radial Pirelli, ou Michelin, não importa mais agora, qualquer que fosse a marca do pneu não importaria justamente pelas marcas de sangue que trazia nas mãos e na camiseta.

Ela tinha um nome exótico, que também não importa mais, o nome que ele trazia era comum, para não dizer comum ao extremo. O esbarrão fez com que nascesse uma grande cumplicidade dele para com ela, moça simples, que mesmo com seu material de estudo amassado e com lágrimas nos olhos por ter perdido um semana de trabalho, não perdeu os bons modos que tinha e aceitou o pedido de desculpas desconsolado que ele lhe fazia. A única coisa que ela tinha às mãos eram os pincéis que ele conseguirá retirar antes que ela o puxasse para a calçada para que não morresse atropelado.

Surgiu uma grande cumplicidade entre os dois, mas não a primeira vista como ocorre no cinema, foi necessário que se esbarrassem novamente, dessa vez com menos intensidade e na calçada. Ele pediu o telefone dela, ela não lhe deu, mas marcaram de se encontrar no mesmo dia ao anoitecer, num barzinho muito perto de onde tiveram o primeiro encontro trágico.

Para parecer mais gentil do que realmente era, ele trouxe um pequeno ramalhete de flores e uma tela de pintura. Pedindo mil desculpas novamente, mas assim como no cinema, que foram após um café, não quis que as coisas houvessem ocorrido diferente. Assim conheceu ela. Que aos poucos, e foi muito pouco tempo, tornou-se uma pessoa muito querida, pensava nela como uma mulher, queria estar perto dela, fixava seu olhar quando ela não estava vendo no seu rosto, mas não deixava de olhar para seu corpo.

Ela começou a gostar dele pelas flores e principalmente pela tela que lhe trouxera. No café cada um pagou o seu, e no cinema ele bancou o cavalheiro pagando as duas entradas, mal sabia ela que era sua última verba do mês, mas receberia dali uns dias, então marcaram de se encontrar novamente, no sábado, era quarta feira.

Ele já haveria recebido e ela marcou de levá-lo em uma exposição de colegas, na qual ela também expunha um quadro.

Inicialmente era uma paisagem simples, uma casinha, uma pequena paisagem a beira do lago, mas depois de todos os acontecimentos envolvendo ele, não pôde mais.

Quando na quarta-feira recebeu a tela como pedido de desculpas pintou furiosamente o quadro, as tintas pingavam da tela, inicialmente o que pareceria uma forma abstrata de arte ia tomando forma, o mesmo vermelho vivo que mancharia as mãos dele uma semana depois, brotava vida da tela, flores. Quanto mais vermelhas pintava, mais parecia estar viva. A fúria que pintava a tela, tornava a inflar seu coração. Não de raiva, mas de excitação. A tinta na tela, manchando seu macacão, a fez pensar mais e mais nele. As cerdas do pincel que usava ficavam na tela, a cada rosa que desenhava pensava mais e mais nele, a cada pétala que tirava de sua mente, sentia esquentar o seu corpo. Pensava nele.

Na mesma quarta-feira que foi ao cinema com ela, viu-se a luz do luar no terraço do prédio onde morava. A lua estava cheia. Fazia muitos anos que não pegava seu violão velho, totalmente desafinado, tratou de fazer o melhor que pode para deixar o som audível. Cantou para os gatos da vizinhança que saiam para festar a madrugada. Já havia pensado em ser como aqueles gatos que muitas noites de solidão haviam lhe feito companhia. Mas não naquela noite. Naquela noite era um amante, mas ainda solitário.

No sábado ele e ela se encontraram na fatídica esquina, que os marcou tanto. Seguiram para a exposição. Vendo os quadros dos colegas dela, ele se sentiu excluído daquele mundo. Conhecia a linguagem da musica, mas não tão bem, pra ser sincero, quase nada. No mundo dos quadros só via, passava a sua frente, casa, cachorros, abstrações. Porém não viu, mas ao se aproximar das rosas dela, sentia seu corpo arder. O tempo estava quente sim, mas não era calor, era uma animação sem tamanho, achou que as obras estavam fazendo isso com ele, porém teve a certeza que era uma obra e sua artista que o estavam encantando.

Naquela noite amaram-se loucamente, como ele nunca havia feito, mesmo porque recorria muitas vezes ao sexo pago para como dizia aliviar a tensão. Ela jamais havia sentido tamanha emoção e prazer, com ninguém que havia se deitado. A vida havia lhes proporcionado um grande presente, mas cobraria amargamente.

Ela não voltou a ligar para ele. Aturdido não sabia o que estava acontecendo. Ligou várias vezes, o telefone tocava e ninguém atendia. Passaram-se um, dois e nada. Quando completava uma semana do primeiro esbarrão, ele não agüentou mais, sabia onde ela estudava, foi esperar ela na saída do atelier. A viu saindo com outro rapaz de mãos dadas. Ela o viu. Fez sinal que ligaria para ele. E assim aconteceu.

O telefone soou. A dor em seu peito e a dúvida de atender ou não. Atendeu. Era ela. Explicou-lhe que aquele rapaz com que a vira era seu namorado. Há muito não o via. Ele apareceu de surpresa na mesma noite que se amaram. Ela estava criando coragem para contar-lhe a verdade. Mas não sabia se o que sentia era correspondido. Ele ratificou que o que sentia era mais que real, e que nunca havia sentido isso antes.

Então ela lhe disse, que aparecesse na sua casa dentro de duas horas que ela já teria contado ao outro rapaz e que esse já teria ido embora.

Ledo engano.

Antes tivesse esperado mais um dia, que era o prazo que esse outro permaneceria na cidade. Viera para fechar um negócio, e ficaria duas noites na cidade, chegara no domingo pela manhã, e partiria na terça feira. Na segunda feira a noite quando ela havia combinado de encontrar ele dali a duas horas ocorreu o que não deveria ter acontecido na vida dos dois amantes.

Ela contara tudo ao outro rapaz. Esse não conseguia aceitar a verdade. Ameaçara ela. Com uma faca cortou o seu rosto, a torturou psicologicamente até que falasse onde morava ele. Contou forçada. Quando estava saindo de casa ele se deparou com o outro rapaz. Com a mesma faca que ela fora ferida ele também foi. Uma perfuração pelas costas. Caiu ao chão. Com a faca ao seu lado. A dor imensa, que o rasgava só era menos que o sentimento que tinha por ela, no momento que levou a facada lembrou dela, e imediatamente ficou preocupado com sua situação.

O outro rapaz disse algo como amaram-se juntos e agora sofrem juntos. O sangue que estava em seu corpo esquentou, pegou a faca e não se importou com mais nada. Esfaqueou o outro rapaz como se disso dependesse a sua sobrevivência, e de certa maneira dependia. Pensou em vingar a recém descoberta amada, logo desfez essa imagem e correu para vê-la.

Atravessou a mesma avenida, ensangüentado, manchado com o mesmo tom de vermelho que guiou a recém descoberta atração, o vermelho do sangue se misturou ao vermelho da tinta, e manchou para sempre a vida daquele casal.